domingo, 28 de fevereiro de 2010

É por causa da cor do trigo...


Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.

(...)

- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...

(...)

- O que é que "estar preso" quer dizer - disse o principezinho?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...

(...)

- Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.

(...)

- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.

(...)

Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...

(...)

E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...

(O Principezinho - Antoine de Saint-Exupéry)


Por causa da cor do trigo... Mesmo quando a linguagem é uma fonte de mal entendidos posso sempre deixar dito no silêncio as mensagens essenciais, aquelas que não estando ao alcance dos olhos ficam gravadas no coração.
Às vezes as coisas que nos cativam ou nos fazem criar laços surgem quando não se anda à procura e, talvez por isso, fazem-nos perceber ainda melhor que de onde nada se espera tudo pode surgir, mesmo quando o tudo às vezes é apenas a cor do trigo...
Sinto-me raposa, consciente do que significa dar valor à saudade mas ao mesmo tempo com a enorme benção de saber em consciência que existem realmente passos que nos fazem sair da toca reconhecendo neles o aproximar de quem passou a distinguir-se de cem mil rapazinhos...
O essencial, esse, é invisível aos olhos mas, por vezes, é simplesmente porque não o querem ver pois às vezes existem toda uma clareza nas coisas mais simples que desde logo nos mostra e ensina que onde nada se semeou nada irá nascer, mas quando se dedica tempo e carinho a uma semente ela passa a ter para nós o significado da rosa do Principezinho...
É por causa da cor do trigo, também...
Até já...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lenda do arco-íris


A LENDA DO ARCO-ÍRIS



"O João era pobre. O pai tinha morrido e era muito difícil a mãe manter a casa e sustentar os filhos.
Um dia ela pediu-lhe que fosse pescar alguns peixes para o jantar.
O João reparou numa coisa a mexer-se no meio do arvoredo. Aproximou-se sorrateiro, abaixou-se, afastou as folhas devagarinho e . . . viu um pequeno homem sentado num minúsculo banco de madeira. Costurava um colete verde com um ar compenetrado enquanto cantarolava uma musiquinha.
À frente do João estava um anão. Rapidamente esticou o braço e prendeu o homenzinho entre os dedos.
- Boa tarde, meu senhor.
Como estás, João? - respondeu o homenzinho com um sorriso malicioso.
Mas o anão tinha montes de truques para se libertar dos humanos. Inventava pessoas e animais a aproximarem-se, para que desviassem o olhar e ele pudesse escapar.
- Diz-me lá, onde fica o tesouro do arco-íris?
Mas o anão gritou para o João que vinha lá um touro bravo a correr bem na sua direcção. Ele assustou-se, abriu a mão e o anão desapareceu.
O João sentiu uma grande tristeza, pois quase tinha ficado rico.
E, com estas andanças, voltou para casa de mãos a abanar, sem ter pescado peixe nenhum. Mal chegou contou à mãe o sucedido. Esta, que já conhecia a manha dos anões, ensinou-o:
-Se alguma vez o encontrares, diz-lhe que traga o tesouro imediatamente.
Passaram-se meses.
Até que um dia, ao voltar para casa, sentiu os olhos ofuscados com um brilho intenso. O anão estava sentado no mesmo pequeno banco de madeira, só que desta vez consertava um dos seus sapatos.
- Cuidado! Vem lá o gavião! - gritou o anão, fazendo uma cara de medo.
- Não me tentes enganar! - disse o João. - Traz já o pote de ouro!
- Traz já o pote de ouro ou eu nunca mais te solto.
- Está bem! - concordou o anão. - Desta vez ganhaste!
O pequeno homem fez um gesto com a mão e imediatamente um belíssimo arco-íris iluminou o céu, saindo do meio de duas montanhas e terminando bem aos pés do João.
As 7 cores eram tão intensas que até esconderam o pequeno pote de barro, cheio de ouro e pedras preciosas, que estava à sua frente.
O anão baixou-se, com o chapéu fez-lhe um aceno de despedida, e gritou, pouco antes de desaparecer para sempre:
- Adeus, João! És um menino esperto! Terás sorte e serás feliz para sempre!
E foi o que aconteceu. O pote de ouro nunca se esgotou e o João e a sua família tiveram uma vida de muita fartura e de muita alegria."

De todos os mitos que povoam a nossa imaginação há alguns em que gosto de manter algumas nuances, por forma a tornar ainda mais mágicos alguns fenónemos tão facilmente explicados pela natureza como o arco-íris.
Apesar de saber claramente tratar-se de uma decomposição do espectro de luz do sol que brilha entre gotas de chuva acho que sempre o associei ao sorriso e à perfeição, pela forma harmoniosa como sete cores se distinguem concentricamente e se estendem num pedaço de céu em que o seu início e o sítio onde termina não é possível distinguir.
Curiosamente na minha vida o arco-íris parece quase sempre acabar em sítios estratégicos, razão pela qual sempre achei por bem adoptar esta lenda irlandesa e pô-la em analogia com a minha própria experiência.
Por outro lado, serve também a vertente mais empírica deste fenómeno para me enriquecer metafisicamente, uma vez que, como já referido, só há reflexão das sete cores após um período de chuva e com incidência de sol, o que gosto de resumir muito concretamente que depois da chuva na nossa vida, o sol tem ainda mais valor!!!!
Quanto ao pote de ouro... Bom, com toda a certeza os tesouros existem, seja no fim do arco-íris seja nos lugares mais comuns, resta-nos estar atentos!!!
Até já...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

:/

Saudade...
Até de falar sobre o estado do tempo.... :/

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Brindar....

Existe uma pessoa na minha vida que, do alto da sua sabedoria, sempre me ensinou que "pensamentos e palavras positivos trazem energias e actos positivos." Não duvidava em nada dela, não tinha, no entanto, a constante capacidade para o pôr em prática na minha vida, talvez devido a algumas pedras basilares que estavam mal alicerçadas e não me permitiam fundamentar sobre elas construções sólidas.
Contudo, no processo de vivências que vamos experimentando passei a conseguir encontrar estruturas coesas o suficiente para me ajudarem a expandir os acontecimentos de uma forma mais ordenada e serena.
Prova de que a minha amiga é uma pessoa com uma lucidez e sabedoria ímpares é a força extra que esta postura na vida nos oferece e nos faz, mais sensatamente, não viver por antecipação o minuto seguinte.
Finalmente também eu conseguir crivar todas as pequenas pedras angulares que, por vezes, funcionavam como grão na minha engrenagem e, assim, fazer fluir os mecanismos mais facilmente.
A notícia de um grande sucesso chegou às nossas vidas e é com reconhecido orgulho que sei que sou parte desse sucesso, não só pela esperança depositada mas também pela grande aprendizagem de oferecer a quem precisa a minha força, pois só ela gera mais força. Consequentemente, aprendi que o meu desânimo gera desânimo e consegui, por isso, eclipsá-lo!
Sempre acreditei em ti, na tua promessa de que tudo ia correr bem e principalmente naquela forma única de me tentares proteger de tudo como certeza de que cruzar os braços não era opção. Acreditar foi, por isso, um doce mel saboreado em boas notícias!!! Agora que renasces tu sei que a vida tem outro sabor, como há um ano atrás quando a fénix era eu!
E tivemos assim ambas direito à melhor prenda de anos, a tua atrasada a minha uns dias antes mas porém perpetuada para cada dia das nossas vidas. Pois é, mamã, porque de facto ontem o brinde de aniversário, mais do que ser a mim tinha que ser a ti... mas tinha também que ser àqueles a quem tive oportunidade de brindar, num momento de reconhecido agradecimento.
Obrigada.
Até já....