sexta-feira, 11 de junho de 2010

As árvores morrem de pé...

Pensei que podia ser um daqueles dias em que nada se passa e tudo pode acontecer... Aliás, assim são todos aqueles do intervalo desde o dia que nascemos e aquele em que deixamos de viver pois no fundo mesmo os nossos mais rebuscados projetos de vida podem simplesmente desvanecer de um segundo para o outro sem que possamos evitar. Naturalmente gostamos de acreditar que devemos traçar rumos e delinear estratégias mas cansa colher imprevistos após imprevistos e encaixá-los em estruturas de nós...
Tenho procurado aceitar e ultrapassar os momentos menos positivos desta viagem mas contra ventos e marés a vontade é a de não remar por um tempo e ir ao sabor do vento, esperando pelas praias onde isso me vá levar.
Num momento de silêncio oiço ecos dos últimos dois anos de vida e adensa-se a memória de várias etapas delicadas que foram ciclicamente surgindo, encaradas a maior parte das vezes como fases mas que inevitavelmente convergiram numa espiral de pensamentos, sentimentos e cicatrizes profundos.Ultrapassá-los significa, claramente,ter a convicção de que uma força Hercúlea nos moveu mas quão breve é esse momento em que nos sentimos no topo do mundo que basta uma brisa mais afoita para nos fintar. E nós voltamos a balançar, esquecendo-nos que antes já éramos capazes de enfrentar a tempestade...
Hoje nem escrevo com muita lucidez, talvez seja isso que ainda salva o texto, isso e o fato de estar a reger-me pelo novo acordo ortográfico. Hoje apenas há passagem de palavras vividas e sentidas a palavras escritas por destilação de todos os álcóois que se evaporam e fazem deixar no fundo o mais pesado, o que mais marca um composto... Dentro de mim fica o significativo, para fora decanto o que aos olhos de quem apenas vê parece bonito....
Hoje, como apenas uma de muitas vezes, é o dia em que repito vezes sem conta "As árvores morrem de pé" apenas para me lembrar que essa é a postura que as dignifica e as faz ter aquele porte altivo, misterioso até e, sem dúvida, capaz de resistir sempre de pé.
Contra tudo aquilo que neste momento me pede o meu corpo, a minha alma, o meu coração, a única hipótese é mesmo só a de ser uma árvore alta e desejar que ao menos lá de cima eu não encontre uma árvore que me faça feliz, que se torne parte da minha vida, que me faça sonhar com ela e depois ela pegue nas suas raizes e se mude de lugar.... Mas mesmo que mude,eu estou no mesmo sitio a sentir o mesmo.... E aqui morrerei de pé, com a dignidade de uma árvore que sabe ser arbusto quando tem que ser mas que anseia um dia dar flor e fruto...
Até já....