quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ser criança...

Ser criança
É ser herói
É ser artista
É ser protagonista
É ser pintor, poeta e escritor
É ser índio e cowboy
Ser criança é ser o sonho, o futuro e a esperança
Ser criança é aventura, é desafio
É ser conquistador
É rir e brincar
É inventar novas formas de ser criança

Há quem não possa ser criança
Não conheça um palhaço, um balão,
Viva sem sentir o gosto da fantasia
Conheça a fome e o frio
Crianças de vida vazia

Há quem não tenha sequer um lápis, um papel,
O direito a viver, a brincar, a crescer e aprender
Sinta o terror e opressão
Essas vivem sem amor nem ilusão
Conhecem a injustiça, a violência e exclusão,
Não sabem que SER CRIANÇA é ter magia
É ser no presente, a promessa do futuro
De um mundo mais justo, mais humano e tolerante
A criança não sabe, mas confia…

A criança não conhece fronteiras
Não vislumbra o amanhã
Não sabe o que são direitos nem defende teorias
A criança só deseja ser amada
(Poema de AP)

A criança oferece-nos o passado, o presente e o futuro pois no percurso com elas voltamos a encontrar memórias de nós próprios, os nossos sonhos, os medos, os desejos secretos, as recordações de cheiros, sons, cores, lugares e pessoas que nos habitaram e nos construiram.
Temos também o presente, a capacidade de agir aqui e agora na formação de vidas, na modelagem de médicos, arquitectos, advogados, padeiros, futebolistas, polícias, ladrões...É ainda desse presente que nos enriquecemos nesta construção conjunta de personalidades, tanto da criança como do adulto, pois não há como não se estabelecer uma simbiose nesta parceria e acredito ser impossível destacar quem aprende mais com quem.
O futuro, esse começa agora, na medida em que vamos pegando nos lápis contidos nas suas mãos e começamos a delinear tenuemente um trilho de caminho ao qual vinculamos um pouco de nós, projectamos a nossa existência para um futuro em que, ao invés de serem elas a fazer-nos lembrar da nossa infância, será a invocação dos nossos nomes ou estatutos a fazê-los, quando adultos, reportar-se àquilo que hoje vivem e de como nós os marcámos, seja de forma positiva ou negativa.
Neste domínio tenho a sorte de ser abençoada com uma profissão que a todos os níveis reforça a teoria de que "somos do tamanho do que fazemos e não do tamanho da nossa altura" pois posso dizer que trabalho diariamente com as maiores pessoas do mundo!!!! Os "meus meninos" adquirem claramente papel de família, amigos, companheiros pois são parte integrante do meu dia, aquele dia de quando acordo em paz e com saúde mas também o dia de quando se apodera a dor do meu coração e o sol parece não brilhar... Obviamente, há que saber separar águas e, por isso, penso que a eles devo parte de um saudável equilíbrio emocional que encontro quando entre 4 paredes se inicia um novo dia de todas as surpresas que possamos imaginar, não fossem as crianças autênticas caixinhas delas!!!!
Serve este texto para fazer um elogio às crianças, não só aos meus fantásticos alunos que são motivo de orgulho, dedicação e luta, mas também os preciosos 5 sobrinhos que são a luz dos meus olhos e razão de viver, às crianças com que me vou cruzando e tendo a oportunidade de criar mais uma relação e, claramente, à criança que já fui um dia, apesar de não guardar muitas recordações dessa época mas é com incontida certeza que saberei admitir que, pelo menos, tinha a inocência do não pensar...
Aos quinze fantásticos que me dão a imensa honra de mudar a forma como olham para o mundo um obrigada enorme, a certeza de que serei apenas pequena parte de toda uma vida que se estende num rol de capítulos a que eu apenas dei o mote de "Era uma vez..." mas que o "...foram felizes para sempre!" está nas vossas mãos, as mesmas com que com toda a ternura me enchem de mimos e momentos mágicos que partilhamos e são nossos, como os risos, os sermões que vos dou, as palavras que não dizendo sabemos o que significam, as nossas brincadeiras cúmplices mas, principalmente, o que ensino e aprendo pois é também convosco que páro para fazer críticas de quem sou, do que quero ser e como quero ser, sendo que várias vezes me mostram que a vida é mais colorida quando usamos as vossas aguarelas!
Até já...